Em função do colapso do Sistema Cantareira – que tem operado com menos de 11% de sua capacidade – os municípios da Região Metropolitana de São Paulo têm sofrido cortes no volume de água distribuído pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Cerca de 8 milhões de pessoas são dependentes dos reservatórios que compõem o sistema.
Apesar da crise iminente, Alckmin evita instituir o regime de racionamento de água em pleno ano eleitoral. Além de investir, de imediato, em soluções paliativas – como aplicar multa em quem desperdiçar água, utilizar reservatórios que já trabalham perto da capacidade máxima e iniciar uma obra de R$ 80 milhões para captar o volume morto do Cantareira – o governo tenta, agora, desvincular a imagem de Alckmin da gestão da Sabesp.
Apesar disso, os laços entre Sabesp e Estado estão consolidados. Isso porque o governo detém, hoje, 50,3% do controle acionário da companhia de saneamento administrada por Dilma Pena.
A titular, ex-secretária de Saneamento e Energia de Alckmin, foi indicada para o posto em 2011, pelo próprio governador. Naquele ano, a Sabesp distribuiu a seus acionistas – responsáveis por 49,7% da empresa – R$ 578 milhões em dividendos, valor que representa 43,9% do lucro líquido da Sabesp em 2010. Os dados são do relatório divulgado em março passado pela Diretoria Econômico-Financeira e de Relações com Investidores da Sabesp.
“Essa crise de corte de água que já está acontecendo desde dezembro [de 2013] na Região Metropolitana de Campinas, e desde fevereiro em Guarulhos, tem vários componentes. O primeiro é a falta de sinceridade e transparência por parte do Estado. Por exemplo, essa tentativa de descolar [a imagem de Alckmin] da Sabesp. O histórico [de propagandas da Sabesp] terminava em Sabesp e governo do Estado juntos. Pegue agora as últimas propagandas e veja que retiraram o governo do Estado. Essa é a postura. Quando se tem uma crise adiante, se tenta descolar as imagens”, criticou Padilha.
Na avaliação do postulante ao Palácio dos Bandeirantes, um componente essencial ao entendimento da falta de água no Estado é analisar a “falta de planejamento e execução de obras” durante o governo Alckmin.
“O atual governador já era governador em 2004, quando aconteceu a renovação da outorga [para uso das águas] do Sistema Cantareira. Quando foi feita essa renovação, a Sabesp assumiu a responsabilidade de executar um conjunto de obras que reduziriam a dependência [da Região Metropolitana de São Paulo] do Sistema Cantareira. Obras que estão mapeadas desde 2004 pela Sabesp deveriam ter sido realizadas”, apontou o ex-ministro.
Se eleito em outubro, Padilha afirmou que uma de suas primeiras intervenções, no que tange a política de gestão de águas, será “fazer as obras que não foram feitas, com PPP [Parceria Público-Privada] quando necessário, com cooperação dos municípios para as desapropriações necessárias, com os estudos ambientais necessários”.
Além disso, o ex-ministro destacou que é necessário incentivar o setor privado a ampliar a captação de água pluvial, bem como tornar mais respeitosa a relação entre a Sabesp e as prefeituras. “Vários [município] têm leis que estabelecem que as empresas de transporte devem captar água da chuva para lavar a frota, para não utilizar a água do sistema de fornecimento da Sabesp e, assim, disputar o uso com os cidadãos ou com hospitais. É preciso mais incentivos em relação a isso”, indicou.
“A outra linha de atuação é fazer uma gestão responsável tanto na Sabesp como na Sabesp com os municípios. A relação tem que ser mais respeitosa. Não pode o prefeito de Guarulhos saber por e-mail que a cidade ia ter, da noite por dia, 400 litros por segundo a menos de água”, disse Padilha, em alusão ao corte na venda de água por atacado da Sabesp – o que obrigou a Prefeitura de Guarulhos a instituir rodízio no fornecimento de água nos bairros da cidade.
Colaborou Cíntia Alves, Daniel Mori, Luis Nassif e Patricia Faermann
Nenhum comentário:
Postar um comentário