Na opinião de Dilma, o Brasil marcou um gol no Oriente Médio. Segundo ela, foi a vitória de uma política externa de diálogo, pró-paz, que tenta construir um mundo melhor. A pré-candidata disse que o acordo valorizou a disposição do governo Lula de instaurar um outro clima de negociação e credenciou ainda mais o presidente brasileiro como líder internacional.
Questionada sobre os impactos do acordo numa eventual indicação de Lula para secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Dilma disse tratar-se do tipo de pergunta que tem de ser feita para ele — mas ponderou que o presidente tem vínculos fortes com o Brasil. Por outro lado, ressaltou que a diplomacia brasileira, sob o atual governo, deixou marcas fortíssimas nos negócios internacionais.
Dilma destacou o empenho bem-sucedido de Lula na construção do G20, no combate à megacrise financeira, na Conferência Internacional do Clima em Copenhagen e no estreitamento de laços diplomáticos na América Latina e na África. Reafirmou também a corajosa postura do Brasil em relação a Honduras, declarando que, por questões de princípios, Lula acertou ao não reconhecer o atual governo hondurenho, eleito depois de um golpe de Estado contra o presidente Manuel Zelaya.
As perguntas mais provocadoras e preconceituosas da entrevista ficaram a cargo da dupla Lucia Hippolito e Míriam Leitão. Porta-vozes mais desabridas dos interesses do mercado, as jornalistas tentaram em vão emparedar Dilma, que respondeu a ambas à altura — e ainda pôs Leitão em seu devido (e irrelevante) lugar.
Depois de acusar o governo Lula de terceirizar e esvaziar as agências reguladoras, Hippolito indagou sobre o papel do Estado na economia. Dilma, diplomaticamente, redarguiu que as agências cumprem a exata função a que se destinam — regular setores da economia —, não substituindo os ministérios na finalidade de planejar. O Estado tem de agir onde há falha de mercado, como concentração de redes.
Desmentindo Hippolito, Dilma afirmou que o conjunto das agências reguladoras se tornou mais ágil, forte, moderno e eficiente, sobretudo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e a ANP (Agência Nacional do Petróleo). Agregou que indicações políticas para ocupar os cargos nas agências são comuns até nos Estados Unidos e não necessariamente levam à nomeação de pessoas incapazes, sem preparo técnico. Defendeu, ainda, concursos públicos para o preenchimento de vagas, de modo a revitalizar as agências e construir um Estado meritocrático e eficiente.
Míriam Leitão saiu em apaixonada defesa do conservadorismo do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que, segundo a jornalista, foi atropelado por Dilma. Para Leitão, as medidas ortodoxas que Palocci propôs para estabilizar a moeda foram inicialmente criticadas, mas depois acatadas, pela ex-ministra.
Dilma disse que integrou a justa orçamentária do governo desde 2005 e que, por consequencia, foi tão responsável quanto Palocci pelos rumos da economia brasileira. Todas as mudanças de cortes de gastos de 2005 para cá foram aprovadas com o meu acordo, explicou Dilma a uma mal-humorada Miriam Leitão, que interrompia a toda hora a entrevistada. Me desculpe, Mirian, você está falando uma coisa que não é correta. Você está equivocada no que se refere a números, reagiu Dilma.
Mais raivosa depois do pito, Leitão voltou a se fiar na ortodoxia e disse que Dilma é que estava errada quando atropelou o ministro Palocci. Ao que Dilma respondeu: É você, Mirian, que está errada no conceito. Não se pode discutir dívida pública sem dizer por que ela cresceu. Nossa dívida não é igual à da Grécia, que está quebrando. O Brasil está crescendo. A ex-ministra ainda disse que a pergunta de Mirian era descabia e extemporânea: Você está pegando uma discussão de 2005. Fomos interrompidos pela crise.